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terça-feira, 14 de outubro de 2008

A atriz Drica Moraes mostra, no palco, o resultado da disciplina e do estudo


Na adolescência, o desafio era se expor. Gordinha, CDF, com olheiras carregadas, tinha pouquíssimos amigos. Na verdade, gostava mesmo era de ser sozinha. Até que, aos 12 anos, descobriu o palco no Colégio Andrews, na Zona Sul do Rio de Janeiro. “O teatro foi uma onda libertadora de alegria, despudor. Eu tinha muita arte em casa. Meu pai era arquiteto, me ensinou a desenhar, a tocar piano, mas faltava uma cara-de-pau, um desabrochar”, conta a carioca Adriana Moraes Rego Reis, batizada por um dos seis irmãos de Drica, quando ela tinha 2 anos.
Se o frio na barriga que surgia ao tentar se socializar era incômodo, a sensação atualmente a estimula. Principalmente, antes de entrar em cena no primeiro monólogo da carreira, A ordem do mundo, em cartaz na capital até o dia 26. “O medo vem sempre em parceria com a coragem. Um monólogo parece exigir perfeição, você não pode errar, ter um branco. Mas, depois da estréia, aprendi a lidar com a imperfeição. Quando vai começar o espetáculo, já penso: ‘Hum, o que será que vai dar errado hoje?’”, conta, sorrindo.
Conviver com o imperfeito parece mesmo ser um aprendizado, ao longo de duas décadas, para a atriz de 39 anos, cuja trajetória é marcada, pelo menos para os amigos, pelo perfeccionismo e pela disciplina. “Ela estuda bastante os textos. Durante os ensaios de A ordem do mundo, se eu não dissesse ‘chega’, ela não pararia mais”, lembra o diretor da peça, Aderbal Freire-Filho. Essa ênfase nas minúcias valeu o reconhecimento da autora da peça, Patrícia Melo. “Com sua capacidade dramática e seu virtuosismo cômico, Drica conseguiu atingir o equilíbrio da personagem. Ela criou uma interpretação cheia de pathos e verdade”, acredita a escritora, que prepara novo romance. “A Drica é muito detalhista. Se atém bastante ao cabelo, à maquiagem, fica horas se arrumando. Se não fosse atriz, seria uma ótima dona de salão de beleza”, emenda o ator Marcelo Olinto, responsável pelo figurino do espetáculo.
A amizade dos dois é antiga: eram vizinhos na infância, estudaram juntos no Andrews e se encantaram ao mesmo tempo pelo teatro. A ponto de se matricularem, em 1982, na escola de teatro O Tablado e criarem, em 1988, a Cia. dos Atores, com mais seis amigos. Pela companhia, Drica atuou em montagens de sucesso, como A morta, de Oswald de Andrade, e o musical Pianíssimo, de Tim Rescala. “Pianíssmo foi inesquecível. Eu fazia uma menina de 7 anos, que tocava piano em cena e cantava muito. Era ótimo para as crianças”, recorda-se. Na época, em 1993, a atriz ganhou os prêmios Coca-Cola e Mambembe pela peça, dirigida por Karen Acioly.
“Sou chique, bem”
Dos palcos para a tevê foi um pulo. Atriz coringa de autores como Walcyr Carrasco, ela viveu personagens marcantes em 10 novelas, como a manicure Márcia, de Chocolate com pimenta, caipira deslumbrada e fofoqueira que vivia repetindo “eu sou chique, bem”. “Foi a personagem que me marcou mais. É bom fazer televisão. Apesar de ser cansativo, por ter vários meses de gravações, trabalhar na tevê é um ótimo exercício de velocidade”, acredita ela, que também participou de programas como Os aspones e da minissérie Queridos amigos.
Quando não está atuando, Drica gosta de ficar em casa com o marido, o produtor cultural Raul Schmidt, e cinco cachorros. “Minha casa é o melhor lugar do mundo. Volta e meia, tô atracada com faxina, pano e escada. Sempre arrumando coisas.” A agenda também é reservada para viagens. Há pouco tempo, retornou de um período de dois anos em Londres. “Fui acompanhar meu marido, que foi a trabalho. Aproveitei para aprimorar o inglês, estudar cinema e fazer um curso de culinária”, conta a artista, cujas especialidades gastronômicas são cuscuz marroquino e moqueca capixaba.
Além do monólogo, que segue em turnê até o ano que vem, a atriz está escalada para o elenco de Decameron, série dirigida por Guel Arraes e que será gravada no fim de 2008. E prepara-se para viver a psicanalista Nise da Silveira, em filme produzido pela TV Zero. “Ainda é um projeto embrionário, em fase de elaboração de roteiro. Espero que saia no próximo ano. É bem interessante.” Outro plano para 2009 é aumentar a família. “O ano promete! Vou ter de exercer muito essa personagem autoritária, que dá broncas. Sou tão doce que tenho medo de virar uma mãe boba. Vou exercitar o chicote”, diverte-se a atriz, que já ilustrou um livro infantil sobre fadas e gnomos.
Fonte: Divirta-se
Letícia de SouzaDo Correiobraziliense.com.br

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