A atriz Drica Moraes traz para o ceará o monólogo A Ordem do Mundo. Em entrevista ao Buchicho, ela fala sobre o espetáculo e sua carreira na televisão.
20/09/2008
Sobre o palco há 26 anos, a carioca Adriana Moraes Rego Reis chegou ao trabalho mais desafiador de sua carreira. Em seu primeiro monólogo, A Ordem do Mundo, dirigido pelo cearense Aderbal Freire-Filho, Drica vive Helena, uma personagem cheia de paranóias e com um desejo enorme de mudar o mundo. O espetáculo encerra hoje o 15º Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga e se apresenta amanhã em Sobral. A previsão é que ele faça temporada também em Fortaleza no próximo fim de semana. Nele, a personagem Helena revela um pouquinho da atriz, que diz estar vivendo um crescimento profissional violento neste papel. Drica Morais, como ficou conhecida, aos 39 anos, revela-se uma mulher simples, discreta, confiante, cheia de projetos e apaixonada pelo teatro.
Com um talento fascinante desde cedo, Drica estreou no teatro aos 13 anos em Os 12 Trabalhos de Hércules e fez Top Model, sua primeira novela, aos 19. Ainda criança, pensou em ser desenhista. A habilidade com o lápis estava entre as muitas de menina. Cantou, dançou, tocou piano, instrumentos de percussão, fez circo e até ginástica olímpica. Na adolescência, aos poucos, foi trocando estas atividades pelos palcos e se dedicando por inteiro a arte de atuar.
Leonina, de 29 de julho, Drica nasceu no Rio de Janeiro em 1969. Está casada com Raul Schmidt e não fala sobre sua vida privada. Tira o chapéu para o trabalho artístico de Matheus Nachtergaele e Malu Galli. Montou com os amigos seu próprio grupo de teatro, a Cia. de Atores. Em entrevista ao O POVO, por telefone, ela falou sobre sua trajetória profissional, teatro, televisão e seu novo espetáculo, A Ordem do Mundo.
O POVO - Além de atuar, você possui outras aptidões: cantar, dançar, tocar piano, instrumentos de percussão, circo, desenhar. A qual delas você se dedica com mais afinco?
Drica Moraes - Na verdade, essas minhas outras aptidões eu desenvolvia mais quando criança. Estou até com peso na consciência com essa pergunta... (risos). Eu desenhava e tocava quando era adolescente. Eu fiz uma peça onde eu tocava piano ao vivo. Pianíssimo, em 93, dirigida por Karen Accioly. Ganhei alguns prêmios com essa peça. Atualmente, faço somente atividade física. Eu corro e faço yoga.
OP - Você começou atuando aos 13 anos, no espetáculo Os 12 Trabalhos de Hércules, no qual foi possível mostrar seu talento. A partir de então, surgiram outros convites para novelas e seriados, mas sem abandonar o teatro. Como foi esta transição entre teatro e TV? Como você lida com estes dois meios?
Drica - Eu comecei no teatro. Fiz várias peças, ainda amadoras. Pelo próprio volume delas, acabei me profissionalizando. Minha mãe sempre tinha que pedir autorização do juizado, porque eu era menor, e aquela coisa toda. Com 19 anos, fiz minha primeira novela: Top Model. Daí começou essa vida híbrida. Logo depois, eu montei com uns amigos a Cia. de Atores. Éramos amigos de teatro, de tablado e então minha vida sempre foi distribuída entre as novelas e o teatro.
OP - Qual a diferença entre atuar na TV e no teatro?
Drica - São tantas as diferenças. Basicamente é a noção do todo. Na TV não se tem esta noção. A televisão tem uma tentativa de aproximar a interpretação do que é o próprio ator. A gente não cria tons de vozes diferentes dos nossos, não tem um jeito de caminhar diferente dos nossos, por exemplo. A técnica de interpretação naturalista se aproxima muito do cotidiano, de como as pessoas falam, se comportam, se vestem, se relacionam. Isso é uma facilidade da televisão. O difícil da TV é o volume de trabalho, que acaba sendo maior que no teatro. Não se tem fim de semana, não se tem feriado pelo número de horas que se grava, quando a gente está numa novela, por exemplo. No teatro, tem que trabalhar o instrumento vocal e o preparo físico. Você tem que ter um acompanhamento muito mais próximo do teu personagem. Isso te afasta do comportamento cotidiano atual. Você pode trabalhar com vários estilos de interpretações. Existem peças de várias ordens. Aquelas que você trabalha com o realismo fantástico, mímica, circo, musicais, melodrama, teatro-dança. Há um monte de tangentes. O teatro abraça mais variedades, mais estilos.
OP - A Ordem do Mundo, depois da estréia em março, no Rio de Janeiro, entrou em turnê pelo País. Qual a sua leitura desse espetáculo dentro da sua carreira?
Drica - Um monólogo é uma possibilidade de expandir todas as percepções sobre você mesma, refletir sobre sua profissão. Você supera seus limites e os respeita também, diariamente. É realmente um crescimento violento principalmente quando você escolhe estar ali. A Ordem do Mundo foi uma escolha legítima minha, portanto me traz um crescimento muito grande como artista, como gente, como profissional de teatro.
OP - Qual a semelhança entre a Drica Morais e a personagem Helena, de A Ordem do Mundo?
Drica - Helena é uma pessoa que tenta traçar a ordem no mundo com a leitura de jornais. Ela tem todos os problemas que nós temos. E tem vários aspectos tangentes a mim. Esse excesso de informação com que somos bombardeados, nossas limitações para transformar esse turbilhão em algo produtivo. É uma peça que trata do ser humano e tem total aversão também. Fala de impaciência. Ainda que eu seja paciente e tolerante, eu me identifico um pouco com essa característica. Acho que as ansiedades da personagem... A gente tem sempre um Lexotan ali perto para acalmar. Às vezes também sou adepta da tarja preta (risos).
OP - Quais suas expectativas para a turnê no Ceará?
Drica - Eu estou na maior expectativa, super ansiosa. Dentro da turnê, depois de Curitiba, é a primeira cidade grande. Quero saber como as pessoas vão reagir. Creio que é um tema que toca todos nós, principalmente as mulheres. Adoro Fortaleza, fui há muito tempo... Acho que em 90, 91 e nunca mais voltei. Vai ser um prazer retornar.
OP - Qual o papel mais desafiador de sua carreira?
Drica - Sem dúvida, A Ordem do Mundo. Parece que eu bati um recorde olímpico.
OP - Você aconselha jovens atores a iniciarem suas carreiras pelo teatro ou pela TV?
Drica - Talvez o teatro forme melhores cabeças na área, trabalhe mais as essências da atuação. A televisão traz um retorno mais imediato ao sucesso, mas, a longo prazo, ela não forma grandes artistas. O teatro é sempre um belo começo. Mas eu sou totalmente parcial porque eu vim do teatro. Então, tenho mais provas de bons artistas vindos do teatro do que da TV. Mas isso não deixa de ser um pouco de preconceito meu também.
OP - Você já recebeu convites da Record? Drica - Não. OP - Qual a sua avaliação da dramaturgia na Record?
Drica - Nem tenho acesso, não assisto. Ouço falar, mas não acompanho.
OP - Você fez muito sucesso na TV com papéis cômicos. Como você lida com esse gênero?
Drica - Eu adoro comédia. É delícia de fazer, tem a ver comigo, tem a ver com meu jeito, como eu encaro as coisas. É muito prazeroso. Mas sempre no bom contexto, cercada de pessoas boas. Comédia pela comédia, pra mim, não faz muito sentido. Tem que ser a comédia com o drama. Comédia no sentido do patético, do ridículo do ser humano. O ser humano em crise, com fatores que levem ao drama. O comediante trata esses temas rindo de si mesmo, em situações limites. Esse é o comediante. O ator dramático é aquele que se leva a sério. Você tem sempre que levar a sério, mas no fundo, tem um sorrisinho no canto de boca, rindo daquela situação.
OP - Você é uma pessoa discreta e que não gosta muito de assédio. Qual foi um dos maiores inconvenientes que você já teve com a imprensa?
Drica - Não tenho tantos, não. Eu fujo muito, não apareço muito nos lugares. Acho que só é invadido quem procura. Quando você não procura, você não sofre essa ressaca. Geralmente, quando você está mais em evidência, numa novela, a coisa piora. Mas comigo é muito tranqüilo. Eu, que faço novelas esporadicamente, não sinto tanto.
OP - Quais personagens você teve maior reconhecimento do público nas ruas?
Drica - Chocolate com Pimenta, em que eu fazia uma caipira, O Cravo e a Rosa, Os Aspones.
OP - Quais são seus planos e projetos para 2009?
Drica - Carregar A Ordem do Mundo pra São Paulo no primeiro semestre. Tem um projeto embrionário de um seriado na Globo, mas ainda não dá pra falar muito não. Será algo em torno de seis episódios. Posso dizer somente que é algo do núcleo do Guel Arraes e do Jorge Furtado, com um elenco bem legal.
SERVIÇO A ORDEM DO MUNDO - Hoje (20), às 20h30min, no Teatro Municipal Rachel de Queiroz, em Guaramiranga.
Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia). Info: (85) 3321 1270.
Amanhã (21) a apresentação acontece às 20 horas no Teatro São João, em Sobral. Os ingressos são gratuitos e serão distribuídos na bilheteria uma hora antes do espetáculo. Info: (88) 3611 2712. Está prevista uma temporada do espetáculo em Fortaleza no próximo fim de semana (dias 26, 27 e 28/9), no Teatro Celina Queiroz (Unifor). A confirmar. Info: (85) 3477 3033